quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O início.

Passei os dois primeiros meses acreditando que morreria de tanta dor. Foram os momentos mais duros da minha vida. Era dor física mesclada à escuridão completa de pensamentos. Falta de sono, falta de fome, vontade alguma de seguir em frente. Eu, que nunca fui fã de trabalho, encontrava nele meu único refúgio. Passei a odiar os finais de semana e rezar pela antecipação da segunda-feira. Pra dizer a verdade, ainda hoje temo um pouco os sábados, domingo e feriados, mas a sensação ruim vem diminuindo pouco a pouco. O fato é que, contra minhas próprias expectativas, eu sobrevivi.

Tentei encontrar a culpa. Melhor dizendo, a minha culpa. Tentei descobrir onde eu teria errado. Tentei incessantemente refazer cada um dos nossos passos para entender porque ele tomou a decisão tão repentina de me deixar. Repeti a mesma história, para mim e para as pessoas que estavam comigo, milhares de vezes. A reconstituição da nossa vida juntos foi tão detalhada que em alguns momentos pensei que fosse enlouquecer. Durante este tempo, sempre tive a esperança de que ele iria ligar, ao menos para conversar e tentar colocar as peças no lugar, me explicar de verdade o que aconteceu. Mas esse telefonema nunca aconteceu. E o discurso de despedida ecoava na minha cabeça: "eu me sinto como um cara que ganhou na megasena, e um dia acordou e percebeu que o dinheiro não trazia felicidade". Isso não bastava pra mim. Era frase ensaiada para dizer na hora certa. Preferia, mil vezes, que meus piores defeitos e falhas fossem apontados e jogados às claras. Quem sabe assim, ao menos no fim, eu não poderia crescer e ser alguém melhor. Mas não. A dor teria que ser resolvida exclusivamente dentro de mim, sem outras explicações. Aquele amor não adoeceu e morreu aos poucos. Foi assassinado à queima-roupa.

Aí alguém sempre te diz: o problema talvez seja sua auto-estima, ou a falta dela. Hoje em dia, tudo é um problema de auto-estima. O problema é que ter auto-estima boa significa, em outras palavras, ser perfeito. Você precisa amar a si, amar ao outro, não cometer deslizes verborrágicos, não sofrer de mau-humor vez ou outra, não discutir ou questionar jamais e, acima de tudo, o principal: passar sempre aquele ar de que você gosta de estar com ele, mas que também poderia viver sozinha perfeitamente bem. Como se tudo isso fosse muito simples quando você se apaixona. Como se fosse banal manter o controle o tempo todo, sem demonstrar a intensidade dos sentimentos que inundam seu coração. Como se fosse simples fingir que você não liga muito, quando tudo o que quer na vida é passar o resto dos seus dias ao lado daquela pessoa.

Talvez eu precisasse, sim, de mais auto-estima e menos intensidade. As duas coisas estão intimamente ligadas, afinal. Você só aposta todas as suas fichas quando tem pouco a perder. Se você não se ama como deveria, é mais fácil dar toda a sua alma. E é assim que eu me sinto. Alguém que quis, o tempo todo, dar o seu melhor, numa ânsia infinita de fazer tudo dar certo. Errei ao deixar de me dar por inteira, partes boas e ruins num só pacote.

Mas o fato é que, se nós continuássemos juntos, eu não teria que pensar em nada disso.

A razão.

Este blog é um diário de bordo sobre uma recuperação, uma reinvenção e a reestruturação de uma vida após o fim de um romance. Será o meu espaço para despejar lembranças, ensinamentos e principalmente as sínteses de aprendizado que vêm sendo aprendidas no dia-a-dia, na superação e na terapia.

São exatos seis meses desde o fim, e seis meses de terapia também. Mais do que tudo, quero provar a mim o quanto é possível refazer a vida e a felicidade de novas formas diferentes de tudo o que havíamos planejado. Tenho 29 anos e talvez seja importante dizer que não era um namoro qualquer. Foi o maior de todos que vivi. O mais intenso, o mais feliz, o mais bonito. Foi um relacionamento extremamente tranquilo, de paz e amizade, que durou dois anos e meio. Quando estávamos prestes a dar o próximo passo e morarmos juntos, tudo acabou repentinamente. Um dia antes do fim, ouvi "eu te amo demais". Após o término, nunca mais nos vimos ou nos falamos. Ele disse que não me amava mais, que não sentia mais nada. Foi esta a explicação. E o que importa é a história e o aprendizado a partir desse dia, 01/05/2009.